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A minha sexualidade não me define

No dia 21 de agosto de 2024 a Revista Piauí publicou uma matéria sobre um aluno que desistiu da vida por conta do bullying. Pedro tinha 14 anos, morador da periferia, negro e gay. Antes de todas essas designações Pedro era um menino apaixonado pelos livros, bom filho, bom irmão e cheio de sonhos. Assim como o irmão mais velho, o adolescente conquistou uma bolsa de estudos integral por meio de um programa social. Pedro passou por um rigoroso processo seletivo (seis etapas) e foi contemplado com a bolsa no Colégio Bandeirantes, localizado na Vila Mariana, São Paulo.

O que era para ser o início de uma vida promissora tornou-se um pesadelo. O menino que alcançou uma oportunidade por mérito próprio viveu inaceitáveis e revoltantes momentos de dor. Ocasionados por quem? Por mais contraditório e repugnante que pareça foram estudantes, colegas de sala, alunos da mesma faixa-etária que abriram e machucaram a ferida. Pedro tornou-se a chacota da sala. Era ignorado e ridicularizado por sua opção sexual, não aceitavam o “tom da sua voz”.

Filho de uma auxiliar de limpeza e um auxiliar de almoxarifado, Pedro irritava só por querer vencer, por saber da importância dos estudos, por ser resiliente. O irmão mais velho, já formado, era o exemplo que ele queria seguir. Mas Pedro não suportou a dor da ferida aberta, das agressões constantes e acreditou que o melhor era tirar a própria vida. Ele queria parar a dor que era insuportável.

O exemplo a seguir infelizmente é só mais um. Existem muitos Pedros por aí que vivem oprimidos e se sentem inferiorizados por não serem aceitos da forma que desejam, da forma que são. O que nós não devemos e não podemos é normalizar o que é abominável. A minha sexualidade não me define e só diz respeito a mim. Somos livres para escolher nosso caminho e precisamos respeitar e sermos respeitados.

Então como começar essa mudança de pensamento? Comece educando seu filho, seu sobrinho, seu neto. Tudo começa dentro de casa, na família. Os primeiros ensinamentos são dos pais ou responsáveis. Não terceirize essa responsabilidade. Bullying não é uma brincadeira, não é um comportamento social normal, como se acreditava até a década de 1970. Na escola, as vítimas mais comuns são os que não se enquadram em um padrão. É fundamental que família e escola estejam atentas ao comportamento e oferecer o devido apoio.

O melhor caminho ainda é conscientizar e conversar. É um assunto que precisa ser abordado dentro das salas de aula, nas dependências da casa, nas conversas com amigos. O agredido e o agressor precisam de ajuda. É preciso frear esse tipo de comportamento para evitar que mais Pedros saiam de cena, que mais mães chorem por seus filhos e que a sociedade carregue esse peso tão desumano e vergonhoso.

A matéria da Revista Piauí foi escrita por João Batista Jr, de SP

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