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Entrevista: Cláudio Silveira

Moda, empreendedorismo, ousadia, garra, inteligência e DFB, são palavras que definem Cláudio Silveira.

Claudio Silveira sempre trabalhou com moda. Em 1999, idealizou e lançou na cidade de Fortaleza/CE, o DFB – Dragão Fashion Brasil – Festival que se tornou o maior evento de moda do Ceará e um dos mais importantes eventos de moda autoral da América Latina. Além dos desfiles das marcas, a programação cultural conta com shows, apresentações, exposições, arte e também uma dose de solidariedade. Dessa forma, contribuindo para o desenvolvimento da cultura de moda, revelando novos talentos e fortalecendo a indústria têxtil no Ceará e em vários estados.

A 22ª edição do DFB aconteceu nos dias 25, 26, 27 e 28 de maio, na Praia de Iracema – a primeira presencial após o isolamento causado pela pandemia. O evento contou com dois pavilhões: um para o DFB e outro voltado para a indústria, sediando as ações do Programa 100 por Cento CE e da Ceará Fashion Trade, principal feira de negócios de moda do estado do Ceará. Teve duas salas, com passarelas de 40 metros cada, além da passarela externa, instalada nas areias da Praia de Iracema. Também teve exposição de faculdades, salas de desfiles e de workshops.

Para Cláudio, a moda atualmente no Ceará precisa de mais qualidade. É uma luta diária provocar o trade para que eles entendam a força que têm e que, se melhorarem a sua qualidade, ganharão o mundo. “Acho que temos ainda alguns momentos para serem vividos. Não posso falar apenas sobre a minha satisfação, pois o meu gosto não é igual ao de outra pessoa. Sinto falta de algumas marcas cearenses se apresentarem melhor para o mercado. Penso que consumiríamos muito mais se tivessem um visual merchan mais apurado” – pontua.

Em entrevista à Revista Acontece, Silveira falou sobre projetos, DFB 2022, avaliou o cenário da moda local e adiantou o que está por vir na edição de 2023. Confira!.

1- Antes de tudo, conta pra gente um pouco sobre você e como surgiu seu interesse pelo mundo da moda.

Comecei a trabalhar muito cedo, e um dos locais que mais me interessei a trabalhar foramem lojas no Rio de Janeiro, cidade onde morei na década de 80. A partir daí não pareimais.

2- Como administrar o tempo entre trabalho, família e lazer?

Até hoje tento conciliar, é bem difícil. Entretanto, trabalhamos os 4 juntos e acabamos vivendo muita coisa juntos também. O lazer surge nas horas vagas em que não estamos produzindo.

3- Além do DFW, como é sua vida profissional?

Meu trabalho se divide entre os projetos de minhas empresas, envolvendo tanto produção de eventos quanto locação e venda de mobiliário. Enquanto resolvemos as rotinas do dia a dia, também nos concentramos em projetos futuros, que é onde conseguimos, graças ao apoio de grandes parceiros, implementar ações diferenciadas que promovem a inovação, a criatividade e o empreendedorismo.

4- E sobre DFB, como surgiu? Por que o nome “Dragão Fashion” e quais mudanças aconteceram nos últimos anos?

Em 1998 fiz uma viagem com amigos da indústria da moda aqui do Ceará, entredesigners e empresários, para Nova Iorque. De volta ao Brasil, logo montei o projeto doDFB e, menos de um ano depois, estreamos. O nome “DFB” vem do primeiro título doevento – Dragão Fashion Brasil – assim batizado por ser realizado no recém-inauguradoCentro Dragão do Mar de Arte e Cultura, um equipamento que marcou um momento devirada para a cultura no Ceará. Pela primeira vez, a moda era abraçada como uma forma  de expressão. Na época, vivíamos o início do processo de profissionalização das semanasde moda. São Paulo começava a se posicionar com firmeza, era época do MorumbiFashion, herdeiro direto do Phytoervas. E eu sempre vi um enorme potencial criativo namoda cearense. Mas o foco não era, ao contrário dos eventos do Sudeste, a modacomercial. O que nos fascinava era a moda autoral, a criação pura, livre. E foi paraimpulsionar nossos estilistas-artistas que o DFB foi criado.

5- Que grandes nomes da moda foram descobertos a partir do DFB?

Fica difícil falar de um ou alguns nomes, vamos falar de quem mais se sobressaiu durante esses 22 anos do DFB. Lidenbergue Fernandes, Kallil Nepomuceno, Ivanildo Nunes, da velha guarda, e outros como David Lee, Vitor Cunha e Theresa Montenegro que estão despontando no mercado nacional e Internacional, nos orgulhando muito.

6- Como avalia a moda local comparando-a com a produzida no restante do País?

Em constante crescimento, se aprimorando. Não deixamos nada a desejar em relação aos outros estados, porém continuo questionando e provocando o trade para que ele se apresente melhor ao mercado nacional.

7- Quais as principais dificuldades de implantar um evento grandioso como o DFB?

É muito claro que um evento com o tamanho e a visibilidade do DFB Festival agrega muito para o Ceará e isso vai sempre bem além da moda propriamente dita. Quando falamos em turismo, não é só sobre o “turismo de negócios”, porque o DFB fomenta a energia criativa do Estado como um todo. Mesmo quem não vem ao DFB fica seduzido por visitar o Ceará e experimentar, de alguma forma, as cores, as formas e o clima que nossos criadores autorais imprimem na passarela do evento. Nossa mostra gastronômica vai muito além do cuscuz e da caranguejada. Ela apresenta aos visitantes os conceitos de gastronomia afetiva e dos produtos com selo de denominação de origem, que demarcam fortemente a identidade dos nossos chefs mais inovadores. Tudo para dizer o quê? Que moda é mais que roupa. E que moda autoral faz parte da cultura e da vocação para a inovação do nosso povo.

8- O DFW tem projetos sociais? Fala sobre a importância deles para sociedade?

Todos os anos implantamos alguma ação de cidadania, além da ação de sustentabilidade. Nosso evento é um evento lixo zero, e nesta última edição tivemos também a exposição do ICC que foi um sucesso. Apostamos cada vez mais nesse formato de cidadania para o nosso evento.

9- Quais foram as grandes novidades do DFB 2022?

A entrada e receptividade de grandes revistas nacionais e internacionais, o aumento dos espaços físicos, o esporte com a quadra de beach tênis, incentivando esse movimento e mostrando que moda tem a ver com tudo, inclusive com o esporte.

10- E nos próximos anos, o evento já prevê alguma novidade? Deve continuar na Praia de Iracema?

Quem me conhece sabe que eu nunca fui de sonhar baixo. Minhas pretensões são sempre grandiosas e acho que o DFB tem esse jeito. Não à toa, o DFB instala nada menos que mais de 30.000 m², estrutura em pleno areal do aterro da Praia de Iracema. Tudo no evento é grande. E é dessa forma, porque a ideia sempre foi abraçar toda a cidade, abrindo as asas desse Dragão do Mar para o maior número de pessoas, sejam elas interessadas por moda, por negócios, por conhecimento ou por pura diversão. Eu certamente não imaginava onde chegaríamos quando o DFB nasceu, em 1999, mas uma coisa eu garanto: chegamos muito além do que imaginamos chegar.

Em entrevista ao  O Otimista, Silveira deu detalhes da programação, avaliou o cenário da moda local e adiantou o que está por vir na edição do DFB Festival para 2022. Confira!.

11- Por fim, qual conselho você dá para os profissionais que desejam viver de moda atualmente no Ceará?!

O que ainda não conseguimos realizar foi exatamente esse espírito de colaboração entre os diversos segmentos que compõem o nosso trade. Ainda há um sentimento individualista que atrapalha o crescimento coletivo do nosso mercado criativo. A cada ano é como se o DFB estivesse começando do zero. Apesar de grandes e valiosos parceiros que nos ajudam a realizar o evento, ainda enfrentamos a falta de organização do setor e uma ausência de propósito em comum para o trade da moda cearense. E essa união em torno de objetivos claros e factíveis continua sendo meu objeto de desejo. Mas eu sou teimoso e acredito que dias melhores estão reservados para nossa indústria da moda.

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