“Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda, eu que faço parte da rotina de uma delas sei que a força está com ela…”, o cantor e compositor Erasmo Carlos, em sua canção “mulher” retrata com perfeição a força da mulher. Essa teoria do “sexo frágil” não condiz com as ações e pensamentos das mulheres, que têm se mostrado cada vez mais donas de suas histórias e em busca constante por igualdade de gênero. Também presente nessa busca e em muitas outras está Cláudia Brilhante, Chefe de Gabinete e Diretora Institucional do Sistema Fecomércio.
Cláudia traz consigo o poder da transformação, a coragem de sair da zona de conforto e a sensibilidade de quem sabe o quão importante é fazer o bem. Esposa, mãe, profissional competente e antes de tudo, mulher, com toda sensatez e dificuldades que o sexo feminino carrega. Para ela, o maior desafio de uma mulher que consegue crescer no mercado de trabalho, que consegue iniciar em uma empresa e alcança, ao longo do tempo, resultados expressivos até chegar ao topo, é a falta de credibilidade da sociedade. “Essa mulher tem um desafio gigante, porque há quem diga que o crescimento não foi por competência. Daí se cogita que ela deve ter um relacionamento amoroso, ou que é por causa de algum familiar, são vários motivos até que seja reconhecida como uma profissional de talento”, observa.
Oriunda de uma família classe média, Claúdia é a caçula de 11 irmãos, sendo que 10 são do sexo masculino. Ela sempre viveu rodeada de homens, mas, isso não foi motivo para se sentir submissa, pelo contrário, ela foi educada para muito cedo ir em busca dos seus sonhos e lutar por suas conquistas, sempre com muito amor. “É difícil você mostrar que é capaz, geralmente as pessoas te rotulam. Ou você conseguiu o cargo porque é bonita, ou porque é amiga de fulano, parente de beltrano, mas, se você é capaz o tempo vai mostrar o seu valor”, afirma.
Comprometimento e dedicação
“Feliz de quem tem o prazer de servir”, essa frase Cláudia ouviu de seu pai, Ogenis Brilhante, e fez dessas palavras um ensinamento para a vida toda. “Se for para fazer com má vontade, é melhor não fazer. Meu prazer é servir e auxiliar principalmente aquelas pessoas que tem menos oportunidade”, afirma. O trabalho social sempre teve um grande significado na trajetória profissional e pessoal de Cláudia, funciona como uma troca. De um lado ela procura amenizar dores, resolver problemas, oportunizar com uma possibilidade de renda ou mesmo escutar, doar tempo para ouvir, do outro lado ela ganha inspiração, se alimenta da força e da garra de pessoas que não desistem, mesmo em meio a grandes adversidades.
Questionada sobre sua motivação para o trabalho ela afirma, “As mulheres líderes comunitárias são a minha inspiração. Determinadas, guerreiras, mulheres de luta, que perdem, mas não desistem. Nas associações comunitárias conheci mulheres com uma situação difícil, de muitas limitações, mas que não esquecem dos que têm menos que elas. A luta dessas mulheres é por todos e elas são estímulo e fortaleza. Nós estamos aqui para servir”, ratifica.
Antes de se tornar Diretora Institucional do Sistema Fecomércio, ela formou-se em fisioterapia com especialização em Saúde Pública, “Eu me formei em fisioterapia e montei uma clínica em Pacajus. Sempre gostei do toque, da proximidade, de conversar e conhecer as pessoas. Com esse trabalho eu fui me destacando na cidade”, informa. Durante o tempo que atuou como fisioterapeuta ela também deu aulas de biologia e inglês, conciliando os horários e satisfeita por estar no mercado de trabalho. Durante a faculdade ela também deu um jeitinho para conquistar uma renda extra, passou a vender roupas e artigos de higiene para os colegas de curso, de fato ela nunca esperou, sempre buscou.
O mais relevante do período em que trabalhou como fisioterapeuta foi entender o poder da doação. “A clínica atendia por convênio e muitas vezes os planos de saúde não autorizavam o número de sessões necessárias para determinado tratamento, eu não voltava aquele paciente. Pacientes que chegavam na minha clínica de cadeira de rodas e saíam de mãos dadas comigo, isso não tem preço”, afirma emocionada.
Coragem e Resiliência
A fisioterapeuta mostrou sua confiança e coragem ao aceitar concorrer às eleições estaduais em 2002. “Fui a primeira mulher candidata ao Governo do Estado do Ceará. A Lei me permitia, eu tinha capacidade e aceitei o convite, queria mostrar para todos que uma mulher do interior do Ceará até então desconhecida, jovem, classe média, tinha o direito de se candidatar ao maior cargo do Estado, assim como qualquer empresário”, pontua.
Na ocasião, Cláudia sentiu o preconceito, todavia, não se deixou intimidar. Finalizou o processo com um número considerável de votos e a oportunidade de seguir trabalhando no poder executivo, ao lado do governador eleito Lúcio Alcântara, como assessora pessoal. Em seguida recebeu o convite para assumir a assessoria da presidência da Fecomércio. “Dentro da Fecomércio eu fui trilhando um caminho, passei por diversos cargos e hoje sou a Diretora Institucional e Chefe de Gabinete do Sistema Fecomércio”, relata ao explicar sua trajetória profissional.
Fecomércio
Há uma mistura de sentimentos valorosos quando se fala no tocante a relação de Cláudia com o pai e a Fecomércio (Federação do Comércio de Bens Serviços e Turismo). Ogenis Brilhante, pai de Cláudia, foi presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Pacajus, Sincovap, por 42 anos. Os municípios de Pacajus, Maranguape e Cascavel foram os primeiros a constituir a Federação. “Eu acompanhava meu pai nas reuniões, na hora do lanche, e, ainda criança me via trabalhando ali”, lembra.
No que concerne à Fecomércio, ela fala com propriedade que o objetivo maior é o de transformar vidas. Fundada em 1948, é uma entidade sindical patronal que congrega 34 sindicatos do setor do comércio, os quais representam mais de 150 mil empresas atacadistas e varejistas. Administra também o Sesc (Serviço Social do Comércio), o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e o IPDC (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comércio). A junção dessas instituições forma o Sistema Fecomércio, que completou 76 anos de atuação.
Hoje Cláudia ocupa o cargo de Diretora Institucional e Chefe de Gabinete. A agenda é sempre cheia e as responsabilidades são muitas. Dentre as funções exercidas, ela cita algumas com um brilho no olhar, “Eu gosto de estar na rua, gosto de visitar as entidades que são atendidas pelos nossos programas, quando vou a um bairro ou município onde será feita uma avaliação para implantar nossos projetos, quando eu tenho que me reunir com mulheres que me servem de exemplo nas lideranças comunitárias, é sempre aprendizado e prazer”.
O sistema Fecomércio é formado pela maioria de mulheres, 66% dos colaboradores são do sexo feminino, com mulheres ocupando cargos executivos. “Sinto um grande orgulho em fazer parte da história da Fecomércio e representar as mulheres. A mulher tem o dom de fazer duas, três coisas ao mesmo tempo, nosso caminho é mais difícil. Driblamos o preconceito e precisamos nos esforçar para sermos ouvidas”, afirma. Cláudia reconhece a sorte de produzir em um ambiente onde as mulheres são tratadas com respeito e reconhecidas por seus talentos.
Outra função que ela abraçou com muito carinho é a de porta-voz do Sistema Fecomércio. Sempre presente nas mídias cearenses, Cláudia demonstra bastante intimidade com vídeos e microfones. “Gosto de comunicar a população e levar maior conhecimento sobre assuntos relacionados ao sistema Fecomércio. Um dos assuntos que ela comenta com maestria é sobre educação financeira, sobre a diferença entre a necessidade e o desejo de compra. Primeiro você semeia, depois você colhe, ou seja, primeiro você ganha, depois gasta, se fizer ao contrário vai dar problema.Equilíbrio financeiro é muito importante para a saúde de qualquer pessoa.
Para a mulher
Não só no mês de março as mulheres devem ser reconhecidas e homenageadas. A simbologia do dia 08 de março nos remete, todos os anos, a lembrar do quanto foi conquistado e do que ainda precisa ser. O caminho é longo e urgente, não é permitido retornar. Para Cláudia é inadmissível a violência contra a mulher, por menor que seja. “Não aceitem nenhum tipo de violência, sobretudo as que querem ser confundidas com amor. A Lei Maria da Penha precisa ser temida, o que não está acontecendo”, analisa.
Cláudia também fala sobre autoestima e amor próprio, sobre o respeito que precisa reverberar dentro das relações. “Se ame e não rasteje pelo amor de ninguém, não vale a pena. Homens aceitem o “não” e saibam que ninguém é dono de ninguém, mulheres não são propriedades. Homens e mulheres precisam caminhar juntos, não é uma disputa”, alerta.
Para concluir ela fala para todos nós, “Procurem amar e ajudar ao próximo. É muito fácil amar e oportunizar um familiar, um amigo… difícil é amar o desconhecido, o que não te trará nenhuma vantagem material. O primeiro mandamento de Deus “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, é o mais difícil, mas não é impossível”, finaliza. Como ela mesma afirma: longe da perfeição, segue tentando.
Texto: Márcia Rios