Comecei o dia assistindo a um depoimento da apresentadora Angélica, exemplo de beleza feminina desde que me entendo por gente. Ainda criança, Angélica foi eleita, por duas vezes seguidas, a mais bela do Brasil. Bebê, menina, adolescente e adulta, em todas essas fases ela nunca deixou de ser bela. Hoje, em um post do Instagram, me deparo com a artista falando sobre a pressão que sofreu durante toda a sua vida para manter o corpo perfeito. Ao invés de viver a adolescência, Angélica dedicava seu tempo livre aos exercícios físicos, dietas, drenagem, uma rotina anormal para a idade que tinha.
Não querendo comparar (e já comparando), vejo muito das palavras da apresentadora em mim, nas minhas irmãs, amigas, na sociedade… a cobrança é intrínseca, nós mesmas acordamos nossos gatilhos e “normalizamos” o envelhecer para as mulheres, bem mais doído e sacrificante do que para os homens. “O homem mais velho é charmoso, a mulher mais velha é invisível”, afirma Angélica, triste realidade. Funciona como se a mulher tivesse prazo de validade, depois que perde a possibilidade de procriar, já não serve mais.
Cabelos brancos em uma mulher são sinônimos de desleixo, no homem é atraente. Certa vez, estava sentada digitando um texto quando uma colega se aproximou e contou a quantidade de cabelos brancos em minha cabeça. Acreditem, uma mulher. Aquilo nunca havia me incomodado até então. A recomendação foi: “escureça esses brancos, você é muito nova para tantos cabelos brancos”. No momento, fiquei calada. Hoje eu penso: meus cabelos brancos incomodam? Sou obrigada a dar destino a eles? Eu, que sou a dona, não havia notado, mas agora eu os vejo todos os dias.
O objetivo aqui não é militar contra o cuidado com a estética, pelo contrário, acredito que o autocuidado é importante para o lado de fora e necessário para o lado de dentro. O que gostaria de salientar é que os cabelos devem ser modificados porque você quer, porque você sentiu que era o momento. Não é saudável deixar o controle das nossas atitudes nas mãos de uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar e aceitar as mulheres da forma que são e com as mudanças que felizmente o tempo permite. Sejam elas no formato do corpo, na cor dos cabelos, na pele mais flácida. Entenda que o envelhecer é para ser visto como uma dádiva e não como um castigo.
Imagem: Reprodução / Instagram