Onde você estava no dia 1º de maio de 1994? Lembro exatamente o que eu estava fazendo quando soube do acidente com o piloto brasileiro Ayrton Senna da Silva, no circuito de Ímola, na Itália. Não, não pense que eu assistia corridas, tão pouco acompanhava Ayrton Senna profissionalmente, todavia, era impossível não saber quem ele era e o que fazia o homem do capacete amarelo. Eu era nova demais e não entedia a sua grandeza.
A televisão não falava em outro assunto, o rádio, a conversa nas ruas, no transporte público, na calçada, na casa das pessoas, foi uma comoção nacional. Naquele 1º de maio acompanhei as notícias e vi, pela primeira vez, o Brasil unido na dor. O desastre foi muito explorado pela grande mídia, um espetáculo sensacionalista (isso também eu só entendi depois e seria assunto para um outro momento).
Ayrton era a alegria dos domingos, era a certeza da vitória, era o orgulho de uma pátria que via nele um representante que se preocupava em fazer, em busca constante pela perfeição, pelo caminho correto, pela satisfação, pelo título, pelo reconhecimento mundial. É sabido que a Fórmula 1 é um esporte de elite, para pessoas financeiramente favorecidas, realidade que não é possível para a imensa maioria do povo brasileiro. Então, como um piloto de Fórmula 1 conseguiu (e consegue) ser tão admirado? O esporte não era popular, mas ele conquistou o coração do brasileiro.
Passaram-se 30 anos desde aquela manhã e Senna permanece sendo o maior piloto da história do Brasil, ele perdura como o maior representante da nossa bandeira e o hino da vitória não faz sentido com outra pessoa. Certa vez ele falou “em tudo aquilo que me proponho, eu procuro fazer o melhor”, e era verdade. A geração que idolatrou e acompanhou Ayrton teve a oportunidade de aprender que fama e sucesso se alcançam com persistência, trabalho, foco e seriedade. Ele foi além!
O controle estava sempre na medida, calado, pensativo e concentrado. Toda agressividade, ansiedade e esgotamento era externado nas pistas e na busca por superação. Imagens e histórias que antecedem o acidente relatam um piloto preocupado, triste e angustiado. Teria mesmo a “obrigação” de ir até o fim? O fim de semana já não foi deveras carregado com o acidente de Rubens Barrichello na sexta e a morte de Roland Ratzenberger? Desistir da corrida não era opção e ele foi para ganhar.
A intenção aqui não é fazer um resumo melancólico daquele domingo. O objetivo maior é externar uma satisfação genuína ao perceber que ele continua vivo na memória das pessoas e que se tornou um exemplo de força de vontade e persistência. Acredito que sua morte precoce privou o Brasil de mais vitórias e quem sabe até um tetracampeonato, mas também creio que se vida houver após a morte ele deve se alegrar com a maneira pela qual é lembrado e que, mesmo depois de tantos anos, a lição maior que fica é a da fé, da coragem e o poder da estratégia.
Naquela mesma semana faleceu um dos grandes escritores e poetas brasileiros, o jornalista Mário Quintana se foi no dia 05 de maio de 1994. Gosto de suas palavras quando ele afirma “Não faças da tua vida um rascunho, poderás não ter tempo de passa-la a limpo”. Ayrton morreu aos 34 anos e viveu intensamente. Ele não usou rascunhos e não arrancou páginas, ele não desperdiçou o tempo e sonhou com o impossível, com o improvável.
Para finalizar eu convido você, assim como Ayrton Senna, a não viver no rascunho. Faça acontecer, tenha força de vontade, persista, ouse escrever de caneta, vire a página, mude, seja estrategista, acredite em você e não desista. Competir é bom, mas, melhor mesmo é vencer e vencer por mérito, por capacidade e esforço. Que você, assim como Senna, seja admirado em vida e também na morte.
Márcia Rios