O Brasil e o mundo acompanham a situação de calamidade em que vive o Rio Grande do Sul. As fortes chuvas já contabilizam 90 mortes e atingiram 388 dos 497 municípios gaúchos até o momento que escrevo este artigo. O lago Guaíba bateu o seu recorde histórico e o número de pessoas atingidas com a tragédia está em torno de um milhão, trezentos e sessenta mil.
As imagens são fortes, comoventes e esmagam o coração de quem está acompanhando essa verdadeira catástrofe. Socorristas vão levando sobreviventes e eu me atrevo a pensar no que se passa na cabeça dessas pessoas, muitas resgatadas de cima de seus telhados, deixando um passado e levando somente o que cabe no coração.
Um dia você está no conforto e da segurança do seu lar e no outro você não tem mais nada, perdeu familiares, amigos, amores. A água levou os sonhos e trouxe o desespero. Histórias de famílias cobertas por lama e por terra, objetos são perdidos com a mesma rapidez com que a força da chuva tem destroçado o emocional daqueles que habitam aquelas terras e faziam dela o melhor lugar do mundo. Nunca será só um pedaço de chão, são vidas! São cidadãos com a dignidade abalada e a esperança como única possibilidade de recomeço, um recomeço ainda incrédulo porque ainda não se sabe quando chegará o fim.
De onde virá a nova chance? O lado que nos permite respirar é observar o número de brasileiros que estão ajudando a amenizar o momento de tão severo infortúnio. Não importa se você tem muito ou pouco. Vou exemplificar meu pensamento. Vi uma mulher ajoelhada rezando e ao terminar sua prece eu perguntei o motivo do choro. Ela falou que pedia pelas crianças do Rio Grande do Sul. Curiosa como sou perguntei se ela tinha parentes lá. Ela falou que não precisa ter parentes para sentir o sofrimento. Eu me calei e vi quanta sabedoria havia naquelas palavras e naquele gesto de amor. Não precisa haver consanguinidade para se sentir a dor e o desespero do povo do Sul.
Em Fortaleza, numa paróquia perto da minha casa, pessoas se organizam para angariar cada vez mais doações. Uma corrente se fortalece e todo mundo procura ajudar. O pouco se torna muito e a junção de todos tem feito a diferença. O mais interessante é que o bem fica em quem ajuda e em quem faz isso sem espera de recompensa, faz e não sabe quem será o contemplado. Isso é a caridade! Falta luz, falta água para consumo,
falta tudo, só não falta solidariedade. A tragédia despertou o lado humano e proativo das pessoas. Não importa de onde vem, o que importa é o gesto de compaixão, benevolência e amor ao outro.
O que eu mais desejo? Peço a Deus o dia que as notícias sejam de um Rio Grande do Sul recuperado, de um Estado reerguido e de um povo fortalecido. Termino minhas palavras com a certeza de que a bonança chegará. O imaterial será o combustível para um novo Estado. Aquilo que se guarda na alma e se passa para as gerações seguintes água nenhuma consegue extinguir.
Márcia Rios