Autor: Fernanda Leite
Uma das imagens mais compartilhadas nas redes sociais no ano de 2012 foi a foto que mostra a Pit Bull Wicca se despedindo de seu dono Christos. A cadela foi sacrificada por ser considerada agressiva. E segundo a nova lei aprovada em Montreal, no Canadá, os animais agressivos precisam ser executados ainda que não existam provas verídicas contra eles.
Essa não é a primeira vez que um animal é executado pela suposta “agressividade”. Em outros lugares como Colorado, Irlanda do Norte, o caso do cão Lennox mobilizou milhões de pessoas pedindo por sua libertação. Lennox foi condenado à eutanásia porque testes físicos, medindo o tamanho dos ossos da cabeça e das patas, foram feitos no animal, concluindo-se que ele poderia ser classificado como Pit Bull.
Não é difícil encontrar pessoas que por medo e desinformação criticam ou até mesmo sejam a favor do banimento da raça de cão Pit Bull. Mas um grande número de pessoas vem se manifestando por meio das redes sociais em defesa dos animais e seus respectivos donos. Alguns alegam que o homem é muito mais agressivo e até chegam a matar outras pessoas, mas nem por isso são executados. A mídia em outras épocas estigmatizou raças como Pastor Alemão, Dobermann e Rottweiler como cães violentos Agora, o Pit Bull é a raça da vez.
Na verdade, agressividade do cão é culpa do dono. Estudo publicado no vol. 15 da revista Archivesof Veterinary Science (Arquivos de Ciências Veterinárias) relata que na maioria das vezes o bem-estar do animal depende do relacionamento homem-animal em harmonia. Segundo a pesquisa, independente da causa que levou o cão a apresentar uma agressividade despropositada, os proprietários serão sempre os responsáveis pelos atos de seus animais e não o contrário.
Para o doutor em disciplina terapêutica, especialista em cães com desvio de comportamento, Jackson Maciel, o Pit Bull é um cão inteligente, musculoso, forte, resistente e muitos de seus exemplares são obedientes. Para ele, adestrar um cão agressivo certamente ajuda. Mas o que gera a maioria dos ataques nada mais é do que a falta de socialização. Se eu quero um Pit Bull sem agressividade, tenho de socializá-lo com todas as pessoas que eu conheço ou vejo. “Tenho que ser um líder com regras claras sobre agredir ou ameaçar uma pessoa. Só assim, ele nunca se sentirá desafiado ou assustado e sempre terá boa impressão das pessoas estranhas”, explica o especialista.
Maciel afirma ainda que, se o animal for bem treinado por um profissional que conheça bem a raça e entenda também de comportamento canino, certamente será um cão completamente controlado, sem oferecer risco nenhum para a sociedade. O especialista afirma ainda que em casos de acidentes com cães agressivos, eles geralmente ficaram fora de controle por inexperiência ou negligência dos donos.
O terapeuta conclui que um Pit Bull agressivo depende muito da linhagem, do meio em que vive, e de exemplo de outros cães e donos, que muitas vezes incentivam a agressividade sem controle. “Sabemos que 98% dos cachorros nascem para seguir um líder canino ou humano. Claro que em alguns casos, quando o dono não se torna o líder, o cachorro começa a fazer suas próprias leis.”, explica.
O OUTRO LADO DOS PIT BULLS
Big Boy e Mamba, dois cães da raça Pit Bull de Fortaleza, exemplificam uma outra visão da raça. Eles são tão mansos que nem parecem cães de guarda. Seu dono, Roberto Studart, fala que nenhum dos cachorros é adestrado. Eles são educados e, o mais importante, socializados. Roberto os trata como crianças, inclusive com a paciência que se tem com um filho. “Nunca atacaram nenhuma pessoa. Latem se alguém chegar e tocar a campainha, mas isso como todo e qualquer cão, pois estão defendendo seu território”, explica. Seus cães são bem sociáveis e participam de exposições com mais de cem cães, campanhas publicitárias, eventos e desfiles.
Para Roberto, os Pit Bulls são bons animais de estimação, mas devem ser tratados com cuidado e respeito por quem decidir criá-los. “Só ando com meus cães com guia dupla: uma no peitoral e outra com enforcador. Mas apenas por uma questão de prevenção e também para passar tranquilidade para pessoas desinformadas que passam por mim ao passear com eles. Algo que por sinal faço todos os dias.”, completa.
O dono diz que os Pit Bulls se dão bem, inclusive, com crianças. Ele tem uma sobrinha de oito mesese os pais dela também criam um casal de Pit Bull, que se dão superbem tanto com a filha quanto com todas as crianças com as quais os animais até hoje entraram em contato. Nas exposições, por exemplo, o Big Boy sempre foi muito requisitado para tirar fotos com elas. Segundo ele, é preciso ter cuidado, por se tratar de um cão pesado, forte, o que pode vir a ocasionar algum tipo de inconveniência dependendo do porte da criança. “Independente da raça, cães de grande porte têm que ser supervisionados sempre que estivem com crianças”, ressalta.
Roberto conta outro fato curioso: “Tenho uma criação de Buldogues Franceses e sempre que nasce uma ninhada minha ‘pit’ cria leite e amamenta esses filhotes como se fossem dela”. O detalhe que Mamba é castrada e nunca foi mãe. Ele sabe que ao dar à luz a cadela se torna super protetora por instinto mesmo e por isso tenta separá-las ao máximo. Mas, uma vez,a empregada deixou a Mamba ir ao encontro dos filhotes com a mãe e quando foram procurá-la lá estava ela, deitada, dando de mamar para eles, junto com a mãe original. “Meus ‘pits’ se dão maravilhosamente bem com meus ‘Frenchies’, apenas não os deixo ficarem juntos sem a supervisão de alguém pelo mesmo motivo de ficarem com crianças, pois a diferença de tamanho é absurda”, explica Roberto ao falar sobre outra raça que cria.
Da mesma maneira que há criminosos criando Pit Bulls apenas para rinhas, existem também aqueles sérios e éticos. Roberto é um desses donos e, com amor e educação, faz seus animais tão dóceis quanto um gato. “Pena que as pessoas tenham a mania de julgar tudo e todos sem ao menos tentarem se informar um pouco a respeito”.De acordo com Roberto, as pessoas inteligentes sabem que os Pit Bulls são cães maravilhosos. Assim como todo cão, independente de ter ou não raça. “Só temos que respeitar as características das raças.Assim como cada pessoa tem sua personalidade, com os cães acontecem o mesmo. Apenas tem muita gente que pensa que o seu cãozinho de estimação é um brinquedinho.”, conclui.
Ao ler um pouco sobre a história da raça, as pessoas verão que durante as lutas sempre há a presença de humanos nos “ringues” e quem os separa sempre são essas pessoas. Fato é que nunca um Pit Bull de verdade se volta contra essa pessoa para lhe morder.
FIQUE DE OLHO: LEI PARA BRIGAS DE CÃES
O treinamento de cães para rinhas envolve práticas cruéis, desumanas e é ilegal na maioria dos países. Existem dois tipos de brigas de cães: briga de rua e briga de cães profissionais.
A briga de rua é como um símbolo de status para as pessoas que participam. Já a de cães profissionais é uma subcultura muito organizada, constituída de grupos secretos nos quais grandes quantidades de dinheiro são apostadas. Geralmente nesses lugares os cães brigam até a morte.
No Brasil, não existe uma lei específica para rinhas. O que se usa é a Lei 9.605/98 (Art. 32 da Lei de Crimes Ambientais). Os atos de abuso e de maus-tratos com animais configuram crime ambiental. Mas é possível denunciar as rinhas à polícia comum.
Ajude a combater essas rinhas. Se você suspeitar de brigas de cães em sua comunidade, denuncie para a polícia.